domingo, 26 de outubro de 2014

Ordinária


(ficção)

Ordinária, gosta de ser má, gosta de agir sem pensar, vive sem medo, grita, xinga, ama, revive, sorri. Ela é diferente das outras, depois das 17:30 desce e fuma um baseado, depois volta, grita com os pais, bate a porta do quarto e cai em lágrimas... O que há por dentro dessa ordinária? Excesso de fumaça talvez? No dia seguinte repete a mesma rotina, acorda, se olha no espelho, cobre as imperfeições com base, pó e lápis preto.
Escola nunca foi um ambiente de paz, essa ordinária sempre é a ultima da fileira da janela, com a cabeça baixa e fones de ouvido. Algo a impede de ser como os outros, talvez seja o seu passado cheio de dores e remorsos, suas lembranças tristes e repentinas, seu coração que agora bate friamente.
No caminho de volta para a casa ela sempre passa perto do trabalho dos pais e compra 2 litros de álcool. Os pais dessa ordinária nunca foram presentes e mal sabem o que acontecem no ultimo quarto do corredor. Mal sabem eles o que ocorre por trás daquela porta que vive trancada, talvez, estejam mais preocupados com o filho mais velho que está prestes a fazer vestibular para medicina.

Sozinha, ela entra em casa com a bebida dentro da mochila, passa despercebida pela sala onde sua família assiste alguma comédia romântica. Sobe as escadas batendo os pés para que seja notada por todos, mas ninguém a percebe.
Cai em lágrimas.
E no quarto escuro com dezenas de copos, papéis de bala, remédios e estiletes espalhado no chão, ela pesquisa no Google alguma matéria sobre suicídio e imagina como seria um mundo sem pessoas como ela, imagina que seria um mundo bem melhor. "Dane-se" ela diz.
Acende um baseado e permanece imóvel até amanhecer.

Ordinária? Não.
Talvez "falta de amor".

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